fbpx
Pular para o conteúdo

Xadrez, o verdadeiro jogo da vida: o que aprendi jogando xadrez e como uso esses aprendizados no meu dia a dia

Aprendi o movimento das peças de xadrez quando tinha 5 anos de idade, por intermédio de meu pai, meu maior incentivador e educador. Desde cedo, ele me ensinou a jogar xadrez e, naturalmente, fui gostando, me interessando, evoluindo, até que o xadrez tornou-se meu hobby predileto e grande fonte de inspiração e aprendizado.

Li alguns livros, participei de alguns torneios e, durante a faculdade, tive a honra de ser aluno e jogar simultâneas com o Mestre Internacional Christian Toth, que havia sido técnico da seleção brasileira de xadrez.

E, quanto mais vou adquirindo experiência, mais percebo que o xadrez pode trazer grandes lições para nossa vida. Decidi compartilhar algumas delas a seguir:

No xadrez não existe sorte. E na vida?

Meu pai nunca me deixou ganhar. Na primeira vez em que eu ganhei dele, eu tinha 14 anos, ou seja, fazia 9 anos que jogávamos juntos e, quando eu finalmente consegui ganhar dele, foi uma comoção, porque ele nunca “facilitou” pra mim. Tirei foto do tabuleiro e tudo, foi um momento histórico que deixou meu primeiro aprendizado: diferente de outros esportes, efetivamente, o componente “sorte” não está presente em um jogo de xadrez. 

E o fato de ser um jogo em que o elemento “sorte” é nulo (talvez o único momento de influência do acaso é antes de começar a partida, na hora de decidir quem jogará com as brancas e quem com as pretas) faz com que os jogadores tenham de estar aproximadamente no mesmo nível para vencer, e resulta em que eles se comprometam com a melhoria contínua a cada lance.

O jogo só acaba quando termina

Certa vez, quando jogava com um colega de turma (não é contra, pois a noção aqui é de que você sempre joga com um parceiro, e não contra um adversário), logo no início da partida capturei facilmente um bispo e um cavalo dele.

A partir deste momento, o sentimento de “já ganhei” se apoderou de mim, a ponto de eu perder totalmente a concentração no jogo e tempos depois levar um xeque-mate surpreendente. Você não pode subestimar, nem superestimar o parceiro. Aprendi muito sobre não “cantar vitória” antes da hora e continuar dando o melhor de mim até o final.

Foco e paciência são essenciais para tomar decisões estratégicas

O xadrez mexe diretamente com diversos sentimentos, falhas, desejos e defeitos do jogador. No exemplo anterior, minha arrogância, altivez e orgulho receberam um xeque-mate. Paciência e controle de ansiedade são duas características muito exercitadas durante o jogo, principalmente quando pegamos um parceiro que demora muito para jogar. 

É preciso tentar ao máximo não deixar suas emoções levarem a melhor diante da necessidade de ser racional e estratégico, e manter o foco para tirar o melhor de cada jogada.

Postura e respiração (ou como o xadrez me ajudou a meditar)

Ainda nesse tema, o xadrez tem muito a ensinar sobre meditação, sabia? Para jogar, é recomendável postura ereta, respiração ritmada – inspirar pelo nariz e expirar pela boca – e concentração absoluta no tabuleiro. É preciso tentar não deixar fatores externos – barulho, preocupações, pensamentos invasivos – atrapalharem sua jogada. 

Embora o xadrez tenha essa referência à guerra – tem as torres, um rei, bispo, cavalo (como se fosse a cavalaria), tem peão (que seria a infantaria) – não existe essa noção de “combate” no jogo. A guerra é muito mais de você com você mesmo.

Que tipo de guerra é essa? A origem do xadrez

É interessante também analisar as origens do xadrez. Sabe-se que surgiu na Índia. Numa passagem do livro “O Físico”, de Noah Gordon, em que o protagonista está na Pérsia do século XI, atual Irã, o Xá o convida a participar de um jogo de tabuleiro:

“- Nossa antiga diversão. Quando se perde é chamado shahtreng, a angústia do rei. Mas é mais conhecido como “Jogo do Xá”, pois é sobre guerra. (…)

– O rei fica no centro, seu fiel companheiro, o general, a postos. De cada lado deles fica um elefante, lançando sombras agradáveis tão escuras quanto o índigo sobre o trono. Dois camelos ficam depois dos elefantes, com homens decididos montados neles. (…) Em cada extremidade das linhas de batalha encontra-se um rukh, ou guerreiro, que leva as mãos em concha, bebendo o sangue do inimigo. Na frente move-se a infantaria, cujo dever é ajudar os outros durante a luta. (…)

– Quem vence no Jogo do Xá, pode governar o mundo.”

Este “Jogo do Xá” é uma das diversas variantes que denotam o sincretismo do xadrez atual. Nitidamente, o cunho original do xadrez é a representação da guerra.

Hoje em dia, podemos afirmar que esta guerra traduzida pelo xadrez não é mais uma batalha bélica, mas sim mental e espiritual. O xeque-mate é a busca pela verdade, pela jogada perfeita, pelo belo e pelo mistério.

Como tomar decisões visando curto e longo prazo

Entrando um pouco mais nas soft skills, tomada de decisão é uma habilidade fundamental que se desenvolve durante o jogo de xadrez. Você tem que agir ou reagir a algo que foi feito. Se você joga com as brancas, por exemplo, vai ter que decidir se começa com o peão em frente ao rei, se começa com o peão em frente à dama ou outra jogada. Existem diversas possibilidades e devemos escolher aquelas que parecem fazer mais sentido para a estratégia do jogo. 

Na sua vida, você também tem diversas possibilidades a todo instante. Você pode estar aqui comigo, lendo esse texto; você pode ter que almoçar; você pode ter que ler um livro; você pode ter que trabalhar; você pode ver os amigos; você pode ver Netflix; você tem infinitas possibilidades na sua vida. Esse cálculo já foi feito: se você fizer a conta de quantas jogadas são possíveis no xadrez, no jogo inteiro, existem mais jogadas do que o número de estrelas no universo ou de grãos de areia na Terra!!!

É essencial, portanto, pensar bem sobre cada movimento, mas não pensar demais sobre todos os demais eventuais movimentos que você poderia ter feito.

Além da tomada de decisão, em si, você também aprende a tomar decisão sob pressão e a olhar para o longo prazo – isto é, cinco a dez jogadas adiantes. Porque, se eu estou sendo atacado, se eu vejo que meu rei está em risco, eu posso me desesperar e tomar a decisão errada. Mas esteja ciente de que toda decisão envolve risco, sacrifício. Às vezes, você abre mão de um peão porque pode conquistar a dama, duas ou três jogadas à frente.

É aquela velha situação da vida em que a gente dá um passo para trás para depois poder dar dois ou três para frente. “Vou aceitar ganhar um salário menor aqui nessa empresa porque eu sei que daqui a 6 meses meu salário vai dobrar, porque eu tenho potencial, porque eu sei que é um ambiente propício para eu crescer” ou então “vou trabalhar um pouco mais agora porque eu sei que lá na frente vou poder descansar melhor, ou vou virar sócio da empresa”, enfim. É ter noção da potencial recompensa depois que você assume um risco.

O caminho do meio entre o planejamento e a flexibilidade

O segredo da vida talvez seja a gente buscar o caminho do meio, o equilíbrio. Eu devo planejar minhas jogadas, refletir, montar estratégias, mas eu não posso ficar rígido no meu planejamento. É fundamental ter flexibilidade, até porque o outro jogador pode fazer um movimento completamente inesperado e o seu plano vai por água abaixo, não é mesmo? 

“Ah, mas se eu tiver flexibilidade total, não vou me atentar a nada do que acontece, vou perder oportunidades” – sim, verdade. Por isso, o caminho do meio significa nem planejar demais (rigidez) e nem flexibilidade total (“deixa a vida me levar”). Monte sua estratégia, mas abra-se à possibilidade de a qualquer momento fazer um desvio inesperado, que eventualmente poderá ser ainda mais benéfico.

O outro lado da vitória é o aprendizado

Perseverança é outra habilidade que se desenvolve muito bem no xadrez. No final do dia, você tem que continuar acreditando que é possível vencer. O seu exército é representado por você mesmo no tabuleiro; cada peça é um pedaço de você. 

Aliás, eu acredito que não existe derrota no xadrez, ou na vida. Existe a vitória, o sucesso, os louros, a conquista, e existe… o aprendizado. Se você não tiver a vitória, você, no mínimo, vai aprender onde que você errou, o que deu errado para você, por que você não conseguiu lidar com você mesmo, quais ações, quais movimentos te prejudicaram, o que você poderia ter feito diferente e poderá se dedicar mais e se preparar melhor.

O xadrez tem muito a te ensinar sobre o seu nervosismo

Como você se sente quando você está sob pressão? Você começa a suar frio, você fica meio nervoso, você treme, o coração acelera, você morde a boca, você passa a mão excessivamente no cabelo, você tem algum tique… 

Mas como você percebe tudo isso? Autoconsciência – que é outra coisa que o xadrez me permitiu exercitar. E uma vez que você começa a reparar nisso, você pode fazer esse paralelo com o restante da sua vida. As mesmas reações que eu tive no xadrez, eu tenho quando vou, por exemplo, falar em público; a diferença é que agora eu consigo enxergar como é que eu fico nervoso.

Cada pessoa reage de um jeito. Há pessoas em que surgem placas vermelhas no pescoço, na bochecha. Tive um aluno que surgiu placas vermelhas e chegou para mim perguntando: “pelo amor de Deus, como é que eu faço para não ter placa vermelha?”. Eu respondi: “Esquece. É uma reação natural do seu corpo, você não vai conseguir controlar a placa vermelha”. Mas o que você pode fazer é se preparar bem, treinar bem, fazer exercícios de Inteligência Emocional e, com o tempo, indo cada vez melhor, é possível que a placa vermelha diminua naturalmente – mas mesmo que não diminua, ignore-a e não se deixa afetar por isso. É parte do jogo – da vida ou de xadrez. Conviva com o seu nervosismo, desenvolva autoconsciência e use esse autoconhecimento para gerar autoconfiança.

Criatividade somente existe associada a um contexto específico

Sabemos que a criatividade é desenvolvida pelo xadrez. Pensa na seguinte situação: eu acabei de receber um xeque, fiquei encurralado; vou precisar de uma solução criativa para sair desse xeque e poder capturar a dama dele, por exemplo, para devolver o xeque daqui a dez jogadas.

Ou seja, é criatividade dentro de um planejamento, dentro das minhas limitações. Um bom jogador de xadrez é aquele que consegue pensar algumas jogadas à frente, então também tem que ter planejamento, como eu falei mais acima. Como você leva para a sua vida pessoal? Você está pensando daqui a alguns meses? Daqui a alguns anos? Que atitudes você tem hoje que vão te favorecer lá na frente? Quais são os seus planos? Como você está aprendendo? Você está trabalhando, você está estudando, se desenvolvendo, você está plantando as sementes agora para daqui a um tempo colher os frutos. 

E, quando as coisas fugirem dos seus planos, seja criativo(a) na hora de lidar com os problemas, para continuar em sua trajetória de sucesso. A criatividade somente existe associada a um contexto específico!

Resiliência (ou como lidar com as frustrações da vida)

Lidar com frustrações – mais conhecido como resiliência – é mais uma coisa que o xadrez ensina muito bem. Você acabou de perder o bispo, vai se desesperar? Você vai entregar o jogo? Ou você vai respirar fundo e montar uma estratégia para planejar como é que você faz para se sair dessa? 

Perder uma peça no jogo é uma frustração assim como perder um emprego, ou perder um ente querido, ou terminar um namoro, assim como não conseguir aquilo que a gente gostaria. Como eu lido com essa frustração?

Uma vez que eu aprenda a lidar com a perda do bispo no jogo de xadrez, por exemplo, é um passo além para que eu aprenda a lidar também com as frustrações da vida. Nassim Taleb nos apresentou ao conceito do “antifrágil”, que é aquela pessoa que consegue melhorar e crescer quando está diante de uma situação inesperada, com mudanças e pressão. Desta forma, essa é mais uma habilidade que podemos desenvolver no xadrez e levar para a nossa vida: a cada situação diferente que acontece, o antifrágil sai ainda mais fortalecido. 

Aprender xadrez é diferente de aprender a jogar xadrez

Aprender a jogar xadrez é você sabe mexer as peças, o movimento das peças,  quais são as situações especiais do jogo, quais peças você tem que capturar…

Ressalto que aprender técnicas e táticas do jogo de xadrez é importante. Cito algumas: aberturas e fechamentos, buscar avançar pelo meio, ameaçar duas peças com o cavalo, saber fazer o roque na hora certa, proteger um peão passado, auto-defesa de peças etc., porém o primordial é saber tirar lições do xadrez a partir de paralelos com a vida cotidiana.

Há pessoas que somente aprendem a jogar xadrez e há pessoas que também aprendem xadrez. 

Aprender xadrez, portanto, significa conseguir extrair do “jogar xadrez” uma essência e, mais do que isso, se identificar com essa essência, aplicando-a à realidade da sua vida e indo além do tabuleiro.

Crianças podem se desenvolver muito jogando xadrez!

Se você tiver filhos, primos, afilhados, sobrinhos, vizinhos até os sete ou oito anos de idade, eu recomendo fortemente que você estimule a criança a aprender xadrez, junto com dois a três idiomas.

Quando as crianças aprendem xadrez, recebem um estímulo intelectual e uma forma de desenvolverem suas inteligências para expandir a mente. Os dois ou três idiomas aprendidos nessa idade farão com que a criança tenha sotaque nativo e desde cedo seja um cidadão global, com inteligência emocional apurada, que são habilidades fundamentais para criarmos um futuro melhor.

Um experimento feito pelo grande mestre Garry Kasparov na Rússia, separou uma turma de ensino fundamental de matemática em dois grupos. Um grupo recebeu aula de reforço de matemática. O outro grupo recebeu aula de reforço de xadrez. Adivinha quem foi melhor? Exato! O grupo que recebeu aula de reforço de xadrez foi melhor em matemática do que o grupo que recebeu aula de reforço de matemática…

Recapitulando…

Em suma, o xadrez ajuda a desenvolver e estimular o autoconhecimento, a autoconfiança, a autoconsciência, a criatividade, o planejamento, a flexibilidade, a tomada de decisões, a tomada de decisões sob pressão, o raciocínio lógico, analítico e sintético, a memória, o método, a concentração, a paciência, a perseverança, a inteligência social, a inteligência emocional… diversos aspectos fundamentais para vivermos uma vida mais centrada.

Eu sou totalmente a favor da universalização do xadrez nas instituições de ensino e como hobby para quem deseja evoluir diariamente. É um jogo que me ensinou muito durante a minha formação e que continua me ensinando até hoje.

Espero que você tenha gostado deste texto e que possamos jogar juntos em breve =)

Se você quer ler um relato do meu pai sobre um torneio com partidas históricas que joguei com ele, não deixe de conferir esta história que ele contou em 3 partes:

PAI X FILHO: COMPETIÇÃO OU CAPACITAÇÃO?

Clique aqui para a parte 1

Clique aqui para a parte 2

Clique aqui para a parte final

No meu Instagram @vabo23 estou sempre compartilhando os passos mais importantes da minha jornada e trocando ideias sobre soft skills, liderança, empreendedorismo e a vida, em geral 🙂

Segue lá e me manda seus desafios por DM que tentarei te ajudar!

nv-author-image

Deixe uma resposta

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

%d blogueiros gostam disto: